O avanço da tecnologia trouxe mudanças significativas no comportamento infantil, especialmente em relação ao uso de telas. Celulares, tablets e computadores estão cada vez mais presentes no dia a dia das crianças, proporcionando entretenimento e aprendizado, mas também levantando preocupações sobre os efeitos do uso excessivo. A seguir, discutiremos os riscos associados ao tempo de tela prolongado e estratégias para um uso equilibrado da tecnologia.
Riscos do uso excessivo de telas na infância
O contato excessivo com telas pode afetar diversos aspectos do desenvolvimento infantil. Entre os principais impactos, destacam-se:
- Prejuízo ao desenvolvimento cognitivo
Pesquisas indicam que a exposição prolongada a telas pode afetar habilidades cognitivas fundamentais, como linguagem, memória e atenção. Isso ocorre porque a interação com dispositivos eletrônicos tende a ser passiva, reduzindo oportunidades de aprendizado ativo, como brincadeiras físicas e interação social.
- Problemas de sono
A luz azul emitida pelas telas interfere na produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono. Crianças que utilizam dispositivos eletrônicos antes de dormir apresentam maior dificuldade para pegar no sono e menor qualidade de descanso, o que pode impactar seu desempenho acadêmico e desenvolvimento físico.
- Aumento do comportamento sedentário
O uso excessivo de telas reduz o tempo dedicado a atividades físicas. Crianças que passam muitas horas diante de dispositivos têm maior propensão ao sedentarismo, o que pode contribuir para o aumento do índice de obesidade infantil e outras complicações de saúde.
- Exposição a conteúdos inadequados
Dispositivos eletrônicos conectados à internet facilitam o acesso a conteúdos inadequados para a idade, como jogos violentos e filmes com classificação indicativa acima da faixa etária recomendada. O monitoramento inadequado por parte dos pais pode aumentar a exposição infantil a materiais potencialmente prejudiciais.
O papel dos pais e cuidadores na regulação do uso de telas
Os pais e cuidadores desempenham um papel fundamental na maneira como as crianças utilizam dispositivos eletrônicos. Como os adultos interagem com as telas influencia diretamente os hábitos das crianças, que tendem a imitar os comportamentos dos responsáveis. Quando os pais passam muito tempo no celular ou assistindo à televisão, a criança pode interpretar esse hábito como normal e desejar reproduzi-lo. Dessa forma, o estabelecimento de limites deve começar pelo exemplo. Reduzir o uso de dispositivos eletrônicos durante as interações familiares, como nas refeições e antes de dormir, é uma estratégia eficaz para incentivar um consumo mais equilibrado por parte dos pequenos.
Além disso, o acompanhamento ativo do conteúdo consumido pelas crianças é essencial para garantir que os materiais sejam adequados à idade e promovam um desenvolvimento saudável. Muitas plataformas oferecem ferramentas de controle parental que permitem restringir conteúdos inadequados e monitorar o tempo de uso. O incentivo a atividades alternativas, como a leitura, a prática de esportes e o contato com a natureza, também auxilia na redução do tempo de tela e no estímulo ao desenvolvimento cognitivo e social das crianças.
Outro aspecto importante é a comunicação sobre os riscos do uso excessivo das telas. Conversar com as crianças e adolescentes sobre os impactos negativos, como dificuldades de concentração, problemas de sono e prejuízos ao desenvolvimento emocional, pode ajudá-los a compreender a importância do equilíbrio digital. Ao invés de utilizar o tempo de tela como punição ou recompensa, especialistas recomendam a adoção de uma abordagem educativa, incentivando o uso responsável da tecnologia sem que ela se torne o centro das atividades diárias.
Estabeleça uma rotina estruturada com horários definidos para o uso de telas e incentive momentos de interação offline, fortalecendo os laços familiares e promovendo um ambiente mais saudável. O equilíbrio entre a tecnologia e outras formas de aprendizado e lazer é fundamental para o desenvolvimento integral da criança.
Qual a idade adequada para o uso de eletrônicos?
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Academia Americana de Pediatria (AAP) estabelecem algumas diretrizes para o uso de telas conforme a faixa etária:
Adolescentes: definir limites claros de tempo e monitorar o tipo de conteúdo consumido.
Menores de 2 anos: evitar totalmente a exposição a telas, pois é uma fase crucial de desenvolvimento da criança.
Crianças entre 2 e 5 anos: limitar o tempo de tela a, no máximo, 1 hora por dia, sempre com conteúdo educativo e sob supervisão.
Entre 6 e 12 anos: manter o equilíbrio entre o tempo de tela e outras atividades, como brincadeiras ao ar livre e interação social.
Cinco hábitos que ajudam a reduzir o uso de telas
1. Estabelecer regras claras
Definir horários específicos para o uso de eletrônicos ajuda a evitar excessos. Determinar períodos sem tela, como durante as refeições e antes de dormir, é uma estratégia eficaz.
2. Monitorar o conteúdo consumido
Utilizar ferramentas de controle parental e acompanhar os aplicativos e sites acessados pelas crianças garante um consumo de mídia mais seguro e apropriado para a idade.
3. Incentivar atividades alternativas
Propor brincadeiras ao ar livre, leituras e jogos de tabuleiro ajuda a reduzir a dependência dos dispositivos eletrônicos, estimulando o desenvolvimento criativo e físico.
4. Dar o exemplo
Pais e cuidadores devem praticar um uso consciente das telas, evitando acessá-las constantemente na presença dos filhos. O comportamento dos adultos influencia diretamente os hábitos das crianças.
5. Evitar o uso de telas como recompensa ou punição
Usar dispositivos eletrônicos como recompensa pode reforçar um comportamento inadequado. Em vez disso, é mais eficaz criar rotinas saudáveis que incluam o uso de telas de forma equilibrada e educativa.
O uso excessivo de celulares e telas pode trazer diversos impactos negativos para o desenvolvimento infantil, afetando desde o sono até o comportamento social. No entanto, com medidas adequadas, é possível equilibrar o uso da tecnologia, garantindo que as crianças se beneficiem dos recursos digitais sem prejuízo para sua saúde e bem-estar. Cabe aos pais e cuidadores estabelecer regras claras, monitorar o conteúdo consumido e incentivar atividades fora do ambiente digital. Dessa forma, é possível promover um ambiente mais saudável e enriquecedor para o crescimento infantil.
Agendar uma consulta com um médico psiquiatra é um passo fundamental para entender seus sintomas e encontrar o tratamento adequado. Cuidar da sua saúde mental é tão importante quanto cuidar do seu corpo. Procure apoio e comece essa jornada de autocuidado hoje mesmo!
Dra. Veridiana Moura Moyses
| Médica Psiquiatra
| CRM-SP 150.946
| RQE 61.340
Referências:
Sabin, Celular para crianças: riscos do uso de telas na infância, 2024. Disponível em: https://blog.sabin.com.br/saude/uso-excessivo-do-celular-e-outras-telas-na-infancia/
Nagata, J.M., Li, K., Sui, S.S. et al. Associations between media parenting practices and early adolescent consumption of R-rated movies and mature-rated video games. BMC Pediatr 25, 90 (2025). Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12887-024-05367-w